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Soberania Digital na Rússia: Como o Kremlin Está Reconstruindo a Internet ao Estilo da Cortina de Ferro Digital

Imagine acordar em um mundo onde a internet deixou de ser um espaço de liberdade e descoberta para se tornar um pátio fechado, vigiado 24 horas por dia, onde cada clique pode ter consequências graves. Para milhões de russos, essa já é a nova realidade. A soberania digital na Rússia está se tornando um tema crucial para entender essas mudanças.

Nos últimos anos, o governo russo vem desmontando sua paisagem tecnológica aberta e substituindo-a por um ecossistema doméstico, fortemente controlado. Não se trata apenas de bloquear aplicativos estrangeiros ou ajustar leis. É uma reconstrução completa da forma como os russos vivem, trabalham e se comunicam online.

Max: o Super App Russo com Super Poderes de Vigilância

No centro dessa transformação está o Max, um “super app” desenvolvido pela VK Co., empresa de mídia social controlada pelo Kremlin. Pense em um misto de WhatsApp, Google, PagSeguro e serviços públicos, tudo em um só aplicativo — mas com vigilância embutida em cada função.

Essa movimentação não é por acaso. O presidente Vladimir Putin já flertava com a ideia de soberania digital há anos, mirando no modelo chinês. Mas após a invasão da Ucrânia em 2022, a máquina acelerou. Meta, TikTok, YouTube… todos os apps estrangeiros passaram a ser vistos como ameaças.

Com o Max, o governo oferece conveniência e centralização — e também um acesso sem barreiras aos dados dos usuários. Sem criptografia de ponta a ponta, a privacidade virou ficção científica.

Como disse um analista: “O Max não é apenas um app — é um policial eletrônico.”

Desconectando-se do Mundo

A Rússia está deixando de lado a internet global e construindo seu próprio jardim murado. Em julho, houve 2.591 interrupções de internet móvel em todo o país — um salto absurdo em relação às 654 ocorridas em junho. A justificativa oficial? Impedir ataques com drones. Mas o verdadeiro objetivo parece ser outro: silenciar vozes dissidentes.

Além disso, VPNs foram banidas, buscas online por conteúdos considerados “extremistas” agora geram multas, e temas como LGBTQIA+ ou críticas à guerra se tornaram passíveis de prisão. Um post pode levar alguém à cadeia. Literalmente.

A Fuga em Massa dos Talentos de Tecnologia

Não foram só os aplicativos que sumiram. Pessoas também estão deixando o país — e em massa.

Mais de 100 mil profissionais de TI saíram da Rússia em 2022. Muitos deles trabalhavam em empresas como a Yandex, a “Google russa”, que já foi motivo de orgulho nacional. Mas com a guerra, a empresa afundou: seus líderes renunciaram, a bolsa suspendeu suas ações e sua plataforma de notícias virou máquina de propaganda.

A Yandex acabou sendo dividida. A parte russa ficou nas mãos de aliados do governo, e a parte internacional tenta sobreviver fora do país. O estrago foi enorme — e irreversível.

Internet Soberana ou Prisão Digital?

A ideia de “soberania digital” é vender ao povo russo que eles estão criando um ecossistema autônomo. Mas o que está sendo feito é um isolamento forçado. Alternativas nacionais a serviços como YouTube, App Store, Instagram e TikTok estão sendo empurradas goela abaixo.

Rússia enfrenta perda de soberania digital – The Moscow Times

Mas a verdade é dura: ninguém inova isolado.

A Rússia sempre foi importadora de tecnologia. Com as sanções, ficou para trás. Seu setor de chips, segundo o próprio governo, está de 10 a 15 anos atrasado. E os gigantes da tecnologia global — como IBM, Oracle, Samsung, Ericsson — deixaram o país.

Mesmo prometendo investir mais de 41 bilhões de dólares até 2030 para recuperar o setor eletrônico, a Rússia corre atrás de um prejuízo que pode ser impossível de reverter.

O Sonho Digital Que Virou Pesadelo

É triste ver o fim de um setor que, por anos, simbolizou progresso. A indústria de tecnologia russa era um dos poucos ambientes onde o talento valia mais que conexões políticas. Startups prosperavam, investidores estrangeiros apoiavam ideias locais, e o país parecia ter encontrado uma trilha promissora.

Hoje, isso virou fumaça. A nova meta parece ser manter os russos presos em bolhas de informação, com conteúdo filtrado e acesso restrito ao mundo exterior.

A prova disso? Um outdoor na Times Square, em Nova York, convidando profissionais de TI exilados a “voltarem para casa”. Mas quem voltaria para um ambiente onde a liberdade virou crime?

Resumo da Ópera

A Rússia não está apenas reformulando sua internet — está militarizando-a. Nesse processo, destruiu seu setor mais promissor, perdeu seus melhores cérebros e ergueu uma nova cortina de ferro digital. O Max pode até ser o novo xodó do Kremlin, mas foi construído sobre os escombros da liberdade e da inovação.

Para o resto do mundo, fica o alerta: quando governos tratam a tecnologia como ameaça em vez de ferramenta, matam a inovação — e a confiança.

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